quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O PROMOTOR DISCORDOU DO COLUNISTA DO ROL E CARLOS DA TERRA RESPONDEU RESPEITOSAMENTE





Escrito por Redação
domingo, 24 maio 2009
Leia na integra a troca de correspondência entre promotor responsável pela acusação no caso Isabella, dr. Francisco J. T. Cembranelli e o escritor Carlos da Terra, colunista do ROL

O promotor escreveu para o ROL:

"Respeito, democraticamente, qualquer opinião sobre o caso Isabella, mas me parece que o Sr. Carlos da Terra tem precaríssimos conhecimentos da contundente prova que, até o momento, como se sabe, foi levada em consideração por todos os tribunais do país para manter íntegra a acusação formulada contra os réus".

Obrigado
Francisco J. T. Cembranelli - Promotor responsável pela acusação no caso Isabella


O colunista Carlos da Terra respondeu:

Sinto-me honrado por sua gentil comunicação...
É oportuno que eu diga o que já disse antes: O Dr. Cembranelli cumpre com galhardia e maestria o seu papel constitucional. Isso é por demais evidente e V. Excia não poderia trabalhar de maneira diferente na missão que está incumbido. E o Sr. tem toda a razão, não estou totalmente inteirado sobre as provas que os tribunais levaram em consideração, inclusive porque algumas delas são de difícil acesso. Mas peço licença para dizer-lhe que algumas provas (as mais difundidas ) eu as considerei irrelevantes.

V. Excia mesmo me outorgará o direito de discordar, não apenas por que estamos em meio à democracia, mas principalmente porque no dia do julgamento, o MM Juiz dirá em alto e bom tom: "O POVO CONTRA ALEXANDRE NARDONI".

Eu sou o povo, Dr. Cembranelli, e minha consciência aponta para a inocência do casal, indubitavelmente. Ouso dizer que minhas evidências da inocência do casal não são do mesmo cunho das do Sr., mas são de caráter filosófico ou e principalmente psicológicos.

Não estou à altura de argumentar com o Sr. nos termos em que o V. S. é Doutor, por isso peço-lhe que, por especial obséquio, procure filantropicamente raciocinar em meus termos, ainda que provisoriamente. O laudo não detectou a presença de outra pessoa nos aposentos o que efetivamente NÃO QUER DIZER QUE NÃO TINHA OUTRA PESSOA. Não detectar não é não ter.

Permita-me extrapolar para inúmeros casos de naves não detectadas por radares, porém que ali estão aos olhos de muitos. O casal não tinha nenhum motivo para o crime. Ciúme não é um motivo. Ciúme descreve algumas ações e estas são variadas. O ciúme aparece sempre após alguém fazer alguma coisa e a causa da ação não é o ciúme e sim o que fez essa pessoa. Este argumento meu encontra sólido apoio no Dr. B. F. Skinner em "Ciência e Comportamento Humano" , edição da USP em 1964.

Ainda exemplificando de modo bastante singelo. Suponha que entra um leão na sala, eu fico com medo e corro. Eu não corri por causa do medo! O motivo de minha corrida é o leão. Assim, V. Excia, efetivamente não apresentou um motivo para o crime e sim alguns termos descritivos que necessitam, obrigatoriamente, de um SD (Estímulo Discriminativo) para desencadear a ação. Isso não teve.

Não há motivo efetivamente.
As eventuais marcas de sangue foram encontradas como em alguns países onde há um excesso de leis, tão grandes, que o policial pode achar em qualquer carro, mesmo em um carro novo, alguma razão para multar se "não for com a cara do motorista"; encontrará uma luzinha traseira que não acende, extintor embalado, vazio, pneu sem a profundidade da ranhura exigida, e até sujeira pode causar multas em alguns países.

O pessoal da perícia já saiu com esse impulso: encontrar detalhes que ligassem o crime ao casal. Não que a perícia tivesse intenção deliberada de incriminar o casal; isso não. Também não agiram de má fé, é claro. Porém, a urgência dos resultados e o clamor popular podem ter atrapalhado as investigações e afetado sobremaneira os agentes da perícia.

Eles são inocentes, Dr. Cembranelli e eu estou absolutamente certo que se o Sr. estivesse do outro lado ( o da defesa) faria um trabalho igualmente importante e absolveria o casal. O tipo de meu raciocínio pode ser chamado de intuição, talvez, ou de raciocínio lógico. Não se presta à forma padronizada e estereotipada que tudo foi conduzido até agora.

Nós, do povo, temos a facilidade até de suspeitar de alguém e para lhe ser franco, tudo indica que uma outra pessoa foi quem cometeu essa barbaridade e eu lhe apresentarei, se V. Excia quiser, as bases de minha suspeita. Reputo-as muito lógicas e os motivos que apresentarei já foram discutidos com vários advogados brilhantes que aceitaram incontinentes as evidências que apresentei.

Mas se eu já admirava V. Excia, agora admiro e o respeito muito mais e fico aqui pensando que V. Excia que tem o papel de acusar e o fez tão brilhantemente, possa ainda questionar sobre isso. Essa grandeza de V. Excia o põe e grande destaque humano acima do destaque de advogado ou promotor.

O Sr. também quer a justiça e embora vá ganhar a causa, pode não ter certeza que ocorrerá a justiça. Eu, humildemente, posso afirmar sem medo de errar perante minha consciência. O Sr. vai ganhar a causa e o casal vai para a cadeia, mas a verdade surgirá ainda que tarde, e todos verão que eles não cometeram essa atrocidade.

Como o Sr. disse, eu tenho o direito de discordar e me manifestar, mas o Sr. está em posição muito mais incômoda. O Sr. tem obrigação constitucional de acusá-los, ainda que acreditasse em sua inocência. Quem tem que ser tão bom quanto o Sr. é o advogado de defesa. Esse sim terá que ser muito bom.

Penso que tenho uma forma efetiva de mostrar como tudo aconteceu e aqui estou sem qualquer interesse que não seja a justiça e estar em paz quando o Juiz disser: O POVO CONTRA NARDONI.

Aproveito este magnífico e honroso evento para reiterar meus protestos de respeito, elevada estima e claríssima consideração, desejando-lhe imensa felicidade, mas não lhe desejando êxito em seu trabalho, embora eu saiba que vencerá, do ponto de vista jurídico apenas.

Respeitosamente
Carlos da Terra


Atualizado ( domingo, 24 maio 2009 )
http://www.itapedigital.com.br/rol/index.php?option=com_content&task=view&id=4254&Itemid=156