História
PC no jardim de uma de suas casas, em São Paulo. Ele se transformou em símbolo da corrupção no país.
PC no jardim de uma de suas casas, em São Paulo. Ele se transformou em símbolo da corrupção no país.
Ingrid, filha de Paulo César Farias, não tem mais medo nem vergonha de ser reconhecida na rua. Aos 26 anos, estuda Administração de Empresas, trabalha numa concessionária de tratores da família e cuida do inventário de sua herança. Há poucos meses, fez uma cirurgia de redução de estômago.
Emagreceu 50 quilos. "Estava cansada da imagem da gordinha deprimida que atacava a geladeira para aliviar a dor da perda dos pais", diz. Ingrid mora em um apartamento de cobertura com o noivo e o irmão Paulo, de 24 anos. A mansão em que a família vivia hoje é alugada para eventos promovidos por ela e pelo noivo.
Com freqüência, Ingrid pode ser vista passeando no calçadão da Praia de Jatiúca, em Maceió, com seus três cachorros. Ela quer se livrar de um fantasma do passado. Há dez anos, na manhã do domingo 23 de junho, seu pai foi encontrado morto ao lado da namorada, Suzana Marcolino.
Estava de pijama e olhos abertos na cama da casa que possuía em Guaxuma, uma praia de Maceió. Terminou no colchão ensangüentado a trajetória do pai de Ingrid, o homem que, no começo dos anos 90, era cortejado por empresários e políticos, nomeava funcionários no governo federal e cruzava o país a bordo do Morcego Negro, seu jato de US$ 10 milhões. PC era o tesoureiro do então presidente, Fernando Collor de Mello. Quando morreu, o poder tinha ido pelo ralo, mas PC ainda era um cofre cheio de segredos.
A morte de PC e Suzana é um dos crimes que mais mexeram com o imaginário popular nos últimos anos. Existe uma versão oficial, mas muita gente duvida dela. A versão divulgada pela polícia de Alagoas, com base no trabalho feito pela equipe do legista Fortunato Badan Palhares, da Universidade de Campinas (Unicamp), afirma que Suzana matou PC e depois se suicidou.
Teria sido um crime passional, motivado por ciúme, já que PC teria outra namorada, segundo a polícia. Em 1999, o trabalho de Badan foi colocado sob suspeita por uma nova investigação. Com base em fotografias, descobriu-se que Suzana era mais baixa do que declarava em seus documentos.
De acordo com parentes e amigas, a namorada de PC tinha complexo, por isso falseava a altura e usava sapatos de salto alto. O vídeo da autópsia mostra que Badan não mediu Suzana. De acordo com o Ministério Público alagoano, a altura poderia desmontar a versão de Badan - homicídio seguido de suicídio - porque a trajetória das balas seria diferente daquela que ele calculou. "Meu laudo foi questionado por quem não entende nada do assunto", diz Badan.
O trabalho de Badan também foi abalado por uma acusação do ex-governador alagoano Geraldo Bulhões. Em depoimento à CPI do Narcotráfico, Bulhões disse que Badan teria recebido R$ 400 mil de um dos irmãos de PC, o então deputado federal Augusto Farias, para elaborar um laudo mentiroso sobre o crime. Augusto chegou a ser indiciado pela polícia como um dos suspeitos da morte do irmão. Mas o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, pediu o arquivamento do caso ao Supremo Tribunal Federal (STF). Nada ficou provado contra ele.