segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Assassinato “Passional” de PC Farias - Parte I



Essa documentação indica uma nova mentira. Reynaldo de Lima, o chefe dos seguranças que se declarou a primeira pessoa a entrar no quarto onde estariam os dois corpos, afirmou ter usado seu telefone para avisar o deputado Augusto Farias de que PC e Suzana estavam mortos. O problema é que do número telefônico indicado por Reynaldo no seu depoimento à polícia, nenhuma ligação foi feita naquela manhã.

Por sinal, perto das 11h30, um único telefonema foi feito do celular de PC. Dos 11 telefones que tiveram o sigilo quebrado, três são convencionais e oito celulares. A complicação reside no fato de que apenas as linhas convencionais, mais os celulares de Suzana, Paulo César e de um segurança chamado Juarez, que não estava presente no dia do crime, estão em nome de seus titulares.

Os demais são aparelhos alugados e até o momento a Telasa - a estatal telefônica de Alagoas - não conseguiu determinar quem os usava no dia do crime. "Sabemos que alguém ligou para alguém, por volta das 11h30, mas ainda não temos como dizer quem recebeu a ligação", explica o promotor Leon Araújo, que acompanha as investigações.

Com o rastreamento telefônico, o Ministério Público já conseguiu provar, por exemplo, que de fato o celular de Suzana foi usado na madrugada do domingo para ligações ao dentista Fernando Colleoni, em São Paulo. Foram cinco telefonemas, dois enganos. O último deles ocorreu exatamente às 5h02.

Outro indício de que a polícia realmente não está interessada em saber o que aconteceu na manhã do domingo 23 nem em descobrir por que PC Farias morreu é a atenção desmedida dada a uma prima distante de Suzana, Zélia Maciel. Conhecida cafetina de Alagoas, Zélia mente descaradamente desde o enterro da prima. Na ocasião, diante das câmeras de tevê e sempre com um ridículo par de óculos chanel falsificado, ela dizia que Suzana nunca tivera uma arma e nem mesmo sabia atirar. A história não durou muito tempo.

Logo foi descoberto que Suzana e a própria Zélia compraram a arma, em Atalaia, no interior, de Monica Calheiros. A vendedora contou que o cheque usado para a compra do revólver foi preenchido por Zélia e assinado por Suzana. Disse também que antes de fechar negócio, a namorada de PC praticou tiro ao alvo no quintal de um restaurante. Desmascarada, voltou a depor na terça-feira 2. Para variar, mentiu. Confirmou a história de Monica, acrescentou que antes de ir ao restaurante ela e a prima tinham testado uma outra arma em um sítio próximo de Maceió, mas continuou dizendo que Suzana comprou o revólver para presentear a mãe.

Para a polícia alagoana está tudo bem. Comprar no mercado negro uma arma para dar de presente à mãe é coisa absolutamente normal. Tudo é tão absurdo que o próprio advogado de Zélia, Roberto Marques, abandonou a cliente. "Ela não conta a verdade", afirmou. O Ministério Público, porém, não descarta a possibilidade de processar Zélia como co-participe do crime.

Os promotores já descobriram que ela não tem conta-corrente e suspeitam que operasse dinheiro de PC na conta de Suzana. "Poderemos, inclusive, quebrar o sigilo bancário do próprio PC", diz o procurador Camerino. A conta de Suzana no Banco Rural já está sendo rastreada. O problema é que Zélia desapareceu. Na última semana, não foi encontrada em Maceió e a família garante que deixou o Estado. "Isso não tem a menor importância. Ela é apenas uma testemunha", diz o astuto delegado Torres. Ele não está nem um pouco interessado em saber por que PC e Suzana morreram. Tudo está resolvido. Foi um crime passional
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