É louvável que a Polícia Científica esteja se equipando com produtos de ponta. Mas especialistas indicam que o aparato é insuficiente frente ao grande número de crimes. Aconteceram, em média, 28 homicídios por semana em São Paulo, em 2007.
Os potentes microscópios do IML não passam de seis unidades.
A alta demanda pelos equipamentos, somada à falta de mão-de-obra, faz com que um laudo demore 90 dias para ser concluído. "O país possui um índice de criminalidade muito alto e o número de crimes não-solucionados é considerável", afirma Ricardo Molina, professor da Unicamp e perito particular. "Não dá para fazer um 'CSI' aqui".
Dois dos problemas que deixam o Brasil bem distante da realidade americana são as falhas de procedimento e a estrutura precária. É corriqueira a não preservação da área de um delito ou de um acidente. "Quando o perito chega, já ocorreu uma festa no local do crime. E podem surgir pistas que apontam para direções opostas", diz Molina.
O "Grissom brasileiro" sofre com a adulteração que, em muitos casos, quase inviabiliza o trabalho. "Entre 80% e 90% das cenas de crime são alteradas antes da chegada da perícia. Temos que trabalhar em cima do prejuízo", diz Pattoli. Outra crítica é enterrar rapidamente os mortos. O sepultamento, quase sempre, é autorizado antes da resolução do caso.
"Em países desenvolvidos, o corpo fica semanas no necrotério", diz Molina. "A família quer o corpo perto de si, mas, após um crime, ele é do Estado", afirma o legista Fortunato Badan Palhares, que atuou no caso PC Farias, quando o local do crime foi adulterado e o corpo, liberado 28 horas após ter sido encontrado, em 1996. "A exumação nunca trará os mesmos resultados", diz Palhares.
A pouca interação entre o pessoal do IML e o do IC é outro problema. "O legista só vê o corpo, e o criminalista não entende nada do corpo", explica Molina. É recomendável que o médico-legista acompanhe mais os crimes de sangue ou de autoria desconhecida desde o começo das investigações.
O assassinato de Isabella também aponta para outro fenômeno moderno: o uso de tecnologias, como as hoje onipresentes câmeras, na elucidação de crimes. A imagem do pai, madrasta e a vítima em aparente harmonia, captada pelo circuito interno de um supermercado da capital paulista horas antes do crime, foi usada pelos advogados de defesa.
Outras imagens ganharam status de provas em escândalos recentes no país, como a do raio-X de aeroporto que flagrou um assessor do PT com dólares na cueca, em 2005. O exemplo é um dos usados pelo consultor Mário Rosa, autor de "A Reputação na Velocidade do Pensamento" (Geração Editorial, 372 págs., R$ 49,90), em um mundo que é um grande "Big Brother".
A imagem da família no supermercado invadiu o horário nobre da TV. "Em um mundo interativo, com a necessidade de condenações e absolvições, nem sempre teremos certezas interativas", diz Mário, apontando que, com o avanço da tecnologia, cada vez será mais difícil esconder as contradições.
Se as câmeras não trouxerem as respostas, há ainda a perícia para ajudar a Justiça a condenar ou a absolver. E também as tradicionais testemunhas, munidas de olhos e ouvidos bem atentos.
A alta demanda pelos equipamentos, somada à falta de mão-de-obra, faz com que um laudo demore 90 dias para ser concluído. "O país possui um índice de criminalidade muito alto e o número de crimes não-solucionados é considerável", afirma Ricardo Molina, professor da Unicamp e perito particular. "Não dá para fazer um 'CSI' aqui".
Dois dos problemas que deixam o Brasil bem distante da realidade americana são as falhas de procedimento e a estrutura precária. É corriqueira a não preservação da área de um delito ou de um acidente. "Quando o perito chega, já ocorreu uma festa no local do crime. E podem surgir pistas que apontam para direções opostas", diz Molina.
O "Grissom brasileiro" sofre com a adulteração que, em muitos casos, quase inviabiliza o trabalho. "Entre 80% e 90% das cenas de crime são alteradas antes da chegada da perícia. Temos que trabalhar em cima do prejuízo", diz Pattoli. Outra crítica é enterrar rapidamente os mortos. O sepultamento, quase sempre, é autorizado antes da resolução do caso.
"Em países desenvolvidos, o corpo fica semanas no necrotério", diz Molina. "A família quer o corpo perto de si, mas, após um crime, ele é do Estado", afirma o legista Fortunato Badan Palhares, que atuou no caso PC Farias, quando o local do crime foi adulterado e o corpo, liberado 28 horas após ter sido encontrado, em 1996. "A exumação nunca trará os mesmos resultados", diz Palhares.
A pouca interação entre o pessoal do IML e o do IC é outro problema. "O legista só vê o corpo, e o criminalista não entende nada do corpo", explica Molina. É recomendável que o médico-legista acompanhe mais os crimes de sangue ou de autoria desconhecida desde o começo das investigações.
O assassinato de Isabella também aponta para outro fenômeno moderno: o uso de tecnologias, como as hoje onipresentes câmeras, na elucidação de crimes. A imagem do pai, madrasta e a vítima em aparente harmonia, captada pelo circuito interno de um supermercado da capital paulista horas antes do crime, foi usada pelos advogados de defesa.
Outras imagens ganharam status de provas em escândalos recentes no país, como a do raio-X de aeroporto que flagrou um assessor do PT com dólares na cueca, em 2005. O exemplo é um dos usados pelo consultor Mário Rosa, autor de "A Reputação na Velocidade do Pensamento" (Geração Editorial, 372 págs., R$ 49,90), em um mundo que é um grande "Big Brother".
A imagem da família no supermercado invadiu o horário nobre da TV. "Em um mundo interativo, com a necessidade de condenações e absolvições, nem sempre teremos certezas interativas", diz Mário, apontando que, com o avanço da tecnologia, cada vez será mais difícil esconder as contradições.
Se as câmeras não trouxerem as respostas, há ainda a perícia para ajudar a Justiça a condenar ou a absolver. E também as tradicionais testemunhas, munidas de olhos e ouvidos bem atentos.